Lembranças do amanhecer...

Penso em ti, enquanto as primeiras gotas do café tocam o fundo do bule e o seu aroma característico se alastra pelos cômodos vazios. Enquanto sento-me à mesa para pegar o jornal e me concentrar na manchete, lembro dos seus olhos, percorrendo o meu rosto, sem medo. Lá fora, enquanto o dia amanhece sorrateiro, os primeiros raios de sol tocam timidamente as gotas de orvalho que descansam despreocupadas nas folhas verdes espalhadas no jardim. Lembro de você recostando sua cabeça no meu ombro e a proteção dominar todo o meu corpo, enquanto você dorme tranquila e serena. Encaro as nuvens com exatidão pela janela, tentando inventar formas que me pareçam familiares, enquanto lembro das suas mãos contornando minha pele, criando desenhos sinuosos em cada parte do meu corpo. Penso em ti... Observo o colibri escolhendo a flor que deseja, sem se importar com a mais bela ou a mais vistosa. Ele apenas necessita do néctar que ela oferece. Lembro dos seus beijos, extraindo todo o amor que habitava em mim, sem se importar com nada, enquanto eu me alimentava da sua sede pela ternura e me sentia mais forte com a sua reciprocidade. Bebo um gole do café puro. Olho pela janela e contemplo uma gota de sereno errante e solitária que escorre, sem direção, pelo vão dos vidros. Lembro de mim mesmo, solitário, perdido e louco. Enquanto divago minha memória em busca de uma solução dispersa para a sua ausência. Luto contra as mesmas lágrimas teimosas e inflamadas de sempre, que se acumulam nas bordas dos meus olhos ávidas por escorrer pelo meu rosto deprimido e fatigado. Só uma chance. É tudo do que eu preciso para te reconquistar e poder remeter o medo de uma vida longa e silenciosa para longe do meu coração. Só queria te ter de volta...

Por Diego Dittrich